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Hajjah, Iémen, 1999

A imagem deste menino do Iémen, enquadrado entre o tio e o pai, pareceu-me muito comovedora. A expressão da criança era muito sincera. Adoro fotografar crianças e muitas vezes empatizo com elas, porque têm de viver num mundo de adultos quando apenas querem brincar e divertir-se. Podemos ver na imagem que os dois homens, o pai e o tio, têm à cintura adagas cerimoniais. Todos os homens adultos no Iémen têm um punhal como este à cintura, como um cinto. É uma tradição e pode ver-se em todo o Iémen. Eu tinha assistido a um casamento naquele dia e estes homens já estavam a regressar a casa com a criança. Tinham passado todo o dia a dançar, a cantar, a comer. Havia música, as pessoas conversavam... mas eu tinha reparado que o rapazinho estava um bocado aborrecido. Provavelmente não queria estar ali, queria estar a brincar com os seus amigos. E por isso deixei fora do enquadramento os dois adultos e quis focar-me apenas nesta criança que, de algum modo, tinha uma expressão triste. Percebia-se que estava ansioso por voltar a casa e que estava aborrecido por ter passado todo o dia entre adultos. Gosto deste tipo de luz para os retratos, lisa, suave, apagada. Quero sempre ver os olhos. Por isso prefiro fotografar numa situação mais escura, com luz ténue, para os olhos da pessoa se abrirem completamente para a objetiva e eu a poder olhar nos olhos, conhecê-la realmente, ver a sua expressão de uma maneira natural e relaxada.

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